9 de agosto de 2009

Free!

Muito interessante o artigo de Elio Gaspari, publicado na Folha de São Paulo, tratando de um tema interessante na área computacional. O livro já está disponível na Saraiva online, por R$ 47,90.


 


 

ELIO GASPARI

Boa notícia: "Free" chegará às livrarias


 

Com a economia da abundância, o século 21 terá o mercado do grátis, onde se ganhará muito dinheiro


CHEGA NAS PRÓXIMAS semanas às livrarias "Free - O Futuro de um Preço Radical", de Chris Anderson, editor da revista "Wired". A palavra inglesa "free" quer dizer livre, mas também significa grátis. Sua tese é fascinante: dado que os custos da memória dos computadores, do armazenamento e da transmissão de informações tornaram-se desprezíveis, o século 21 assistirá ao crescimento da economia das coisas sem custo, como o Google, a Wikipedia e os softwares abertos. (Em 1960, um transistor custava US$ 100, foi vendido a US$ 10 e hoje custa zero (na verdade, US$ 0,000015).

Quem reage ao preço de R$ 0,00 argumentando que "não existe almoço grátis" ganhará com "Free" uma rica aventura intelectual. Ele não prova que o almoço exista, mas mostra quando e como ele aparece.

Na hora em que a Microsoft, a maior empresa de comercialização de programas de computadores resolve se associar ao Yahoo!, um instrumento de busca e serviço de e-mail gratuito, fica claro que até Bill Gates resolveu ganhar dinheiro oferecendo algo que custa nada. O Google vale hoje US$ 20 bilhões, ervanário superior ao da soma de todas as montadoras de automóveis e companhias aéreas dos Estados Unidos.

O famoso "um é dois, três é cinco" não tem muito a ver com o "Free". A telefônica que dá o celular e vende o serviço é apenas parte de sua história. O mesmo sucede com a banda brasileira Calypso, que vende seus CDs na rede de camelôs para promover seus shows. (A turma da Calypso voa pelo país no seu próprio avião.) Os melhores momentos de "Free" estão nas exaustivas descrições do lucrativo mercado da gratuidade.

Um caso exemplar, repassado por Anderson. Três pesquisadores montaram duas mesas no saguão de um prédio público, oferecendo dois tipos de chocolates. Numa puseram as deliciosas trufas suíças Lindt a 15 centavos cada uma. Na outra, os proletários Kisses, da Hershey, a 1 centavo. Funcionou a racionalidade e 73% dos fregueses preferiram as trufas. Em seguida, baixaram o preço dos chocolates em um centavo. A conta inverteu-se irracionalmente: 69% preferiam os Kisses grátis. Nas suas palavras: "Há o mercado do zero e há o outro, o dos demais preços".


"FREE" CUSTARÁ R$ 59, SEM VERSÃO GRÁTIS

A edição eletrônica do livro "Free" foi oferecida de graça aos americanos durante algumas semanas. Agora o livro de papel custa US$ 27 (R$ 52) e uma versão digital sai por US$ 10 (R$ 19). No Brasil, o volume custará R$ 59,90 (US$ 31), e a editora Elsevier-Campus ainda não decidiu se colocará na rede uma versão digital grátis, ou mesmo paga, a um preço mais baixo. Dói pensar que uma exaltação da economia do grátis (ou dos produtos baratos) do século 21 só seja comercializada no Brasil como se fosse um impresso do século 15.

Depois de atravessar a Revolução Industrial investindo na mão de obra escrava e de entrar na alvorada do mundo dos computadores pessoais com uma reserva de mercado retrógrada e cartorial, o Brasil corre o risco de perder o passo da economia digital. As grandes operadoras de telefonia ficam com os benefícios dos custos baixos das comunicações de voz sobre IP. O mercado editorial ainda não conseguiu oferecer versões digitais de seus livros. As assinaturas de jornais e revistas americanos e europeus estão a preço de banana. Giram em torno dos US$ 10 ("Financial Times" e "Herald Tribune") e US$ 15 ("Wall Street Journal" e "Le Monde").

Desse jeito, o andar de cima nacional acabará impondo uma tributação indireta a quem só lê em português. Mau negócio para ele.

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