27 de dezembro de 2020

Texto Velho sobre Dia Sofrido

 O dia dos dias...

O dia 26 de junho de 2012 vai ficar na lembrança.

Após a consulta médica no período da manhã, voltei para casa a pé, chegando por volta de 09h00min. Nesta data, estamos com apenas um dos “Classe A”, pois o outro está na Concessionária em Ribeirão Preto.

No meio do banho, tocou o telefone. Apressei a saída do chuveiro e atendi, assustando-me com Ana, que informava sobre problemas sérios com o “Classe A” remanescente – nossa condução diária para o trabalho.

De imediato, vesti-me e segui ao encontro de Ana, dirigindo nosso Jeep Willys 1942 (terceiro carro da família?) e já preocupado com nossa viagem para os respectivos postos de labor (Matão e Araraquara).

Ali, na Rua São Sebastião, estava o carro parado, inerte, sem sinal de vida. Ao ligar, girava o motor por alguns segundos e parava, sem indicações de males no painel eletrônico. Em contato com a Concessionária, o primeiro diagnóstico – bomba de gasolina, o que se confirmou com a vinda de nosso mecânico jaboticabalense Vanusa. 

Agora carro e as chaves ficariam nas mãos do mecânico, com responsabilidade de levá-lo para a oficina e recuperá-lo, veículo cansado após 210.000 km rodados e o abandono imposto pela Mercedes Benz aos proprietários dessa máquina produzida em Juiz de Fora (MG) entre 2001 e 2005.

Já eram dez horas da manhã e começamos a correr atrás de um carro de aluguel. Na primeira empresa, todos os veículos locados para as indústrias da região. Vanusa indicou a concessionária Chevrolet Atlas, e eles não tinham carros básicos.

Ana e eu subimos no Jeep novamente, e ao rodarmos um pouco, as marchas da velha caixa T-84 com 70 anos de idade, resolveram encavalar... Parecia que uma nuvem invísivel, com trovoadas e relâmpagos, permanecia sobre nossas cabeças por onde quer que andássemos!

Já na Atlas, não restou alternativa senão um Astra 2.0 e a custo elevado, que viria da sede em Bebedouro. Foi apenas por volta de 11h30 que, em pressa, deixamos Jaboticabal, alcançando nossas tarefas profissionais com quase duas horas de atraso.

Com os gastos inerentes ao aluguel do carro em níveis preocupantes, conseguimos com a Concessionária de Ribeirão a liberação do outro “Classe A” que estava no ‘estaleiro’. Tarefa para o dia seguinte, que nos obrigaria a uma alvorada antecipada.

Após o trabalho, era hora de repetirmos a rotina, saindo de Araraquara, rumando para Matão, resgatando a dona da pensão e retornando ao lar jaboticabalense para o merecido descanso.

TODAVIA, o que faltava acontecer – aconteceu...

Na saída de Araraquara, consegui um acidente de trânsito com o carro alugado!! Fui abalroado na parte traseira por um cidadão que trafegava à minha esquerda e converteu a direita, colhendo a traseira do Astra. Assustado, parei logo e POR MILAGRE, constatei que a pancada tinha se dado com a roda e pneu, e que talvez o reparo fosse simples. Deixei meu nome e telefone com a contraparte atingida, e me coloquei a disposição para arcar com o gasto da funilaria no paralama do carro.

Eram 19h15min quando consegui retomar o caminho para a vicinal de Bueno de Andrada, chegando em Matão às 19h35min, onde tive que dar atenção a um ex-colega de trabalho antes de deixar a cidade em companhia de Ana, a cara-metade e sofredora do dia, que se espantou ao saber do acidente.

Depois de um dia como esse, foi obrigatória a ida para a Academia (precisávamos desopilar o fígado), onde Ana correu 5,5km em 50 min e eu me dediquei ao meu quilômetro regular na natação. Às 21h00min o carro alugado estava na garagem; com dedicação e alguns produtos químicos, consegui fazer com que as marcas do acidente praticamente desaparecessem, e a tal ponto que, ao devolver o carro no dia seguinte, o pessoal que recebeu não percebeu absolutamente nada

É claro que eu tratei de acusar o acidente e mostrar as marcas remanescentes, pela honestidade que sempre norteou meus atos.

Esta “sexta-feira treze” temporã ficará gravada na memória.


26 de dezembro de 2020

Aurora Colheita Tardia

Fizemos uma reunião de 30 minutos na Vara do Trabalho de Taquaritinga, finalizando o ano absolutamente atípico de 2020, na sexta-feira pré-recesso, 18.12.2020. Depois de quase um ano usando a videoconferência, queríamos todos nos "olhar" de verdade.


Presenteei colegas de trabalho com o Colheita Tardia da Vinícola Aurora e como perguntassem algo sobre o vinho, mandei a mensagem abaixo aos cuidados de todos, para melhor aproveitamento.


[ http://www.vinicolaaurora.com.br/br/produtos/aurora/colheita-tardia ]


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Grato pela presença de todas(os).


Foi ótimo o reencontro pessoalmente pessoal em pessoa.


O Aurora Colheita Tardia NÃO é exatamente vinho suave (embora conste no rótulo), ele é vinho fortificado com o próprio açucar (coitado do Evandro) e que usualmente chamamos de "vinho de sobremesa" porque harmoniza melhor com o fim das refeições.


Colheita Tardia? Sim, uvas colhidas já a caminho do apodrecimento e por isso, com maior concentração de açucar. Mas calma, que o vinho não é podre.


Tem coloração amarelo-ouro e ao nariz apresenta nozes, castanhas, flores brancas e mel, com boca suave e aveludada (aka produtor).


A harmonização mais atípica que posso e devo sugerir é com gorgonzola. Vocês ficarão surpresos ao experimentar o queijo e levar, incontinenti, a boca, um pouco do "vinho de sobremesa". É mágico, ao menos aos que se aventuram um pouquinho com as comidas. Seria melhor se a graduação alcóolica se aproximasse ao vinho do Porto (19/20%).


A seguir, bolos de chocolate "à Viena" fazem outro contraponto, inacreditável. O produtor sugere: fondue de chocolate, mousse de maracujá, torta de limão, Tiramisú, suflê de baunilha e queijos de mofo azul, como Roquefort e Gorgonzola.


O rótulo menciona "SUAVE" com a única intenção de vender mais, o que é uma pena. O vinho suave recebe açúcar de cana num processo químico chamado chapitalização, tudo com intenção de agradar a platéia brasileira que não se acostuma com os vinhos secos (brancos, tintos e rosés). Este Colheita Tardia já foi premiado em competições continentais e não se toma em taças, mas em cálices.


Bom proveito junto a sua família.


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Desembargador alerta

Recebi o texto abaixo de colegas de trabalho, e por se tratar de algo que já corre em redes sociais, registrei aqui para reforçarmos todos, os cuidados com a pandemia de COVID-19, a despeito das sandices perpetradas quase que diariamente pelo Presidente da República.

Certamente se refere a republicação de entidade sindical que teve acesso ao Desembargador, que finaliza com a mensagem da autoridade e menciona correção de ordem gramatical.

Ao que foi recebido, portanto, com uma derradeira revisão.

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Desembargador do TRT-2 faz alerta dramático sobre riscos de audiências presenciais na pandemia


Post published: 23 de dezembro de 2020

Rafael Pugliese teve caso grave de COVID-19 e enviou mensagem a colegas de magistratura que circulou em grupos de WhatsApp.

Vice-presidente judicial da última gestão no Tribunal Regional do Trabalho da Segunda Região, o Desembargador Rafael Pugliese Ribeiro redigiu uma alerta dramático sobre os riscos que a retomada das audiências presenciais no Regional podem representar para a saúde pública, dos servidores, magistrados e jurisdicionados.

Acometido por um quadro grave da COVID-19, o Desembargador já se recupera em casa, mas retornou nesta terça-feira (22) a um contato da reportagem informando, via assessoria de comunicação do TRT-2, que “meu caso foi grave. A minha recuperação será longa. Há 45 dias eu corria 8km por dia, todos os dias. Anteontem eu fiz uma caminhada de 300 metros, com duas paradas para descanso. Tudo precisa ser planejado. O simples ato de se levantar do sofá precisa ser calculado. Ao menor movimento mais brusco, surge o déficit de O₂.”

Muitos servidores no Estado e no país já relataram situações assim. Agora, o depoimento de um Desembargador, além de ganhar repercussão, evidencia que o vírus faz vítimas em todas as classes sociais, regiões e perfis socioeconômicos (ainda que as desigualdades sociais venham levando à maior letalidade entre a população negra e pobre). Os trabalhadores na ponta do atendimento nos serviços públicos, por óbvio, estão ainda mais expostos e mais sujeitos a uma exposição desnecessária que deve ser reavaliada.

O Sindicato voltou a pedir a suspensão da retomada do expediente presencial nos tribunais, tendo em vista o recrudescimento da epidemia nas últimas semanas e o cenário projetado para o início do próximo ano (leia aqui).

A mensagem do Desembargador Rafael Pugliese destinava-se a colegas de magistratura, mas como sabido, perde-se o controle do que circula no WhatsApp. Por isso, o Sindicato buscou comprovar a autoria da postagem e solicitar autorização para reprodução no site, mesmo com o conteúdo já tendo sido tornado público.

O testemunho detalhado de quem viveu – e sobreviveu – aos efeitos da COVID no organismo deve ser avaliado por cada juiz, Desembargador e servidor (que tem a greve sanitária como mecanismo de luta contra a obrigação de se expor ao vírus).


Leia abaixo o relato do Desembargador:


Audiências Judiciais Presenciais

Colega,

Você é daqueles que estão com saudades das audiências presenciais e pretende reiniciar as pautas no Fórum?

Se sim, com certeza você não enfrentou os efeitos sérios de uma contaminação por COVID-19, nem viu alguém próximo sofrendo por enfrentá-la. Você não sabe o que é oxigenação de 90%. Você não sabe o que é uma cama de UTI, 4 dias na UTI, nem sabe o sofrimento que existe numa internação hospitalar de 14 dias em área de isolamento com: 15 coletas de sangue de veia, 1 coleta de sangue de artéria (informe-se sobre o que se sente na coleta do sangue de artéria), 30 injeções de anticoagulante, 4 tomografias, 2 raio-X, vários antibióticos (pingando por 4 horas, 3 vezes ao dia, na veia, controlado por máquinas), 80 mg de corticoide por dia, vários outros medicamentos (protetores gástricos, antidepressivos, indutores de sono, relaxantes, anti-inflamatórios, xaropes, antitérmicos), substituição dos “acessos” à veia a cada 4 dias, perda de 10 kg em duas semanas, perda de massa muscular, falta de forças físicas para coisas simples como simplesmente tossir ou assoar o nariz, 30 exames de glicemia, monitoramento de função renal, monitoramento cardíaco, necessidade de aporte de oxigênio, quase três dias sem dormir, alucinações, fisioterapia respiratória diária, controle de sinais vitais a cada 4 horas, tudo cercado de um mundo de incertezas sobre o que pode acontecer.

Se você precisar de “ventilação mecânica”, tudo piora. Será necessária a sedação para a introdução do tubo na traqueia, e outros dois tubos para as suas funções, e poderá ser necessário colocar você permanentemente em posição pronada, de bruços.

Se você for fumante, hipertenso, sedentário, diabético, asmático, portador de alguma comorbidade ou simplesmente estiver acima do peso, tudo se agravará severamente contra você.

É um sofrimento imenso!

Algumas pessoas se recuperam em casa, enquanto outras não se recuperam facilmente, outras são assintomáticas e outras morrem. Cargas virais diferentes, cepas diferentes do vírus, formas variadas e não totalmente conhecidas de contaminação e de recontaminação, risco de perda parcial da função pulmonar (risco de fibrose), feridas em cicatrização dentro dos pulmões.

Tudo isso faz parte do universo de situações que você não pode prever ou controlar. Elas ocorrem, em que pese você, em que pesem as suas fantasias, em que pese o seu romântico idealismo, em que pese a sua opinião sobre a relevante “segurança na colheita presencial da prova”. As pessoas são diferentes e reagem de modo diferente.

É bem prudente que você, antes de tomar a decisão de reiniciar as audiências presenciais com uma população não vacinada e estabilizada, primeiro conheça a realidade, não o discurso ou a fantasia.

Nunca decida antes da instrução. Isso vale para a decisão judicial, mas também vale para preservar a sua vida.

Acredite: os sinais sonoros emitidos permanentemente pelas máquinas à sua volta numa cama de hospital incomodam muito mais do que a ferramenta de videoconferência para audiências…

E se você for bem forte, atleta de alto desempenho, jovem e sadio, ainda assim você mesmo poderá contaminar alguém da família que sofrerá as terríveis consequências.

Espero que o(a) Colega não considere rude esta mensagem, mas que compreenda que a realidade pode ser muito pior do que podemos imaginar (eu nem imaginava tanto!), e que este alerta expressa um sentimento de verdadeira consideração por você.

Com o abraço do Colega,

Rafael E. Pugliese Ribeiro


*Publicamos o texto na íntegra apenas com revisões ortográficas e gramaticais.