Estava arrumando alguns armários e colocando coisas no lixo. O recorte estava no meio de alguns livros e achei interessante disponibilizar aos amigos. A origem é a Folha de São Paulo, na época em que Severino Cavalcanti era presidente da Câmara, e o autor é Clóvis Rossi, colunista habitual.
Uma aula de como governar
SÃO PAULO – Morreu mais uma indiazinha em Dourados (MS). Tinha quatro meses. É a 11ª criança indígena a morrer em dois meses. De fome. Não adianta perguntar ao ministro da Saúde ou a qualquer outra autoridade o que estão fazendo. A resposta já foi dada por Humberto Costa: “As mortes estão dentro do número que normalmente acontece".
E foi cuidar da vida, ou seja, da batalha para permanecer no cargo nessa sórdida disputa pelo poder nos corredores de Brasília.
Enquanto isso, a repórter Silvia Freire, da Agência Folha, fazia o relato de como é governar em países civilizados, a partir do caso do brasileiro Sérgio dos Santos Silva, morto nos atentados terroristas em Madri, há exatamente um ano.
Sua viúva, Sara, e o filho Miquéias, ganharam cidadania espanhola e uma indenização no valor equivalente a R$ 200 mil. Receberão também pensão mensal – de valor que Sara ainda ignora.
Segundo o relato da viúva à repórter, os representantes do governo espanhol “entraram em contato com a gente, mandaram telegrama, foram bem legais".
Ou, posto de outra forma, ninguém do governo espanhol foi aos jornais para dizer que lamentava muito, mas morrer em atentados terroristas “está dentro do número que normalmente acontece” e que, portanto, o governo nada poderia fazer para ajudar as famílias das vítimas.
Note-se que Sérgio nem espanhol era. Nem estava em situação legal no país. É um desses incontáveis brasileiros de uma crescente diáspora que, desiludidos com a pátria, vão em busca de uma vida digna no exterior. Poderia, talvez, ter pedido ajuda a Severino Cavalcanti, o presidente da Câmara, que se orgulha de ajudar “cachaceiro" que viola a lei.
Pobre Sérgio. Nem era “cachaceiro" nem violou a lei. Teve apenas o azar de ser brasileiro pobre. Sua viúva agradece agora ser espanhola, um pouco menos pobre.
Uma aula de como governar
SÃO PAULO – Morreu mais uma indiazinha em Dourados (MS). Tinha quatro meses. É a 11ª criança indígena a morrer em dois meses. De fome. Não adianta perguntar ao ministro da Saúde ou a qualquer outra autoridade o que estão fazendo. A resposta já foi dada por Humberto Costa: “As mortes estão dentro do número que normalmente acontece".
E foi cuidar da vida, ou seja, da batalha para permanecer no cargo nessa sórdida disputa pelo poder nos corredores de Brasília.
Enquanto isso, a repórter Silvia Freire, da Agência Folha, fazia o relato de como é governar em países civilizados, a partir do caso do brasileiro Sérgio dos Santos Silva, morto nos atentados terroristas em Madri, há exatamente um ano.
Sua viúva, Sara, e o filho Miquéias, ganharam cidadania espanhola e uma indenização no valor equivalente a R$ 200 mil. Receberão também pensão mensal – de valor que Sara ainda ignora.
Segundo o relato da viúva à repórter, os representantes do governo espanhol “entraram em contato com a gente, mandaram telegrama, foram bem legais".
Ou, posto de outra forma, ninguém do governo espanhol foi aos jornais para dizer que lamentava muito, mas morrer em atentados terroristas “está dentro do número que normalmente acontece” e que, portanto, o governo nada poderia fazer para ajudar as famílias das vítimas.
Note-se que Sérgio nem espanhol era. Nem estava em situação legal no país. É um desses incontáveis brasileiros de uma crescente diáspora que, desiludidos com a pátria, vão em busca de uma vida digna no exterior. Poderia, talvez, ter pedido ajuda a Severino Cavalcanti, o presidente da Câmara, que se orgulha de ajudar “cachaceiro" que viola a lei.
Pobre Sérgio. Nem era “cachaceiro" nem violou a lei. Teve apenas o azar de ser brasileiro pobre. Sua viúva agradece agora ser espanhola, um pouco menos pobre.
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