18 de abril de 2006

Recomendo o livro...

Na postagem de hoje, atendo os anseios de um Juiz do Trabalho que queria detalhes sobre um livro que viu sobre minha mesa de ofício, na 1ª Vara do Trabalho de Jaboticabal. O título é “Breve História de Quase Tudo” de Bill Bryson, lançado no Brasil pela Companhia das Letras. É best seller mundial e merece um lugar na estante de qualquer pessoa. Sugiro, portanto, ao superior hierárquico e aos amigos que freqüentam este blog, a aquisição de tal obra e o deleite com um pouquinho de quase tudo, concentrando em dez folhas a criação do universo e encerrando, quem sabe, com a história da criação da escova de dentes!!

( ...) E assim, do nada, o nosso universo começa. (...)

(...) Numa única pulsação ofuscante, um momento de glória por demais rá­pido e expansivo para ser descrito em palavras, a singularidade assume di­mensões celestiais, um espaço inconcebível. No primeiro segundo dinâmico (um segundo ao qual muitos cosmologistas dedicarão suas carreiras tentando descrevê-lo em detalhes crescentes) são produzidas a gravidade e as outras for­ças que governam a física. Em menos de um minuto, o universo possui 1,6 milhão de bilhões de quilômetros de diâmetro e cresce a grande velocidade. Existe muito calor agora, 10 bilhões de graus, o suficiente para iniciar as rea­ções nucleares que criam os elementos mais leves - principalmente hidrogê­nio e hélio, com uma pitada (cerca de um átomo em 100 milhões) de lítio. Em três minutos, 98% de toda a matéria existente ou que virá a existir foi produ­zida. Temos um universo. É um lugar da mais espantosa e gratificante possi­bilidade, e bonito também. E foi tudo produzido mais ou menos no tempo que se leva para preparar um sanduíche.

Quando ocorreu esse momento é objeto de discussão. Os cosmologistas há bastante tempo vêm discutindo se o momento da criação foi há 10 bilhões de anos, duas vezes essa cifra, ou um valor intermediário. O consenso parece estar se formando em torno de uns 13,7 bilhões de anos, mas essas coisas são notoriamente difíceis de medir, como veremos adiante. Tudo que se pode realmente dizer é que, em certo ponto indeterminado num passado bem remoto, por razões desconhecidas, surgiu o momento conhecido na ciência como t = 0. Estávamos a caminho. (...)

(...) o próprio Guth admitiu, não fizera quase nada antes. Provavelmente nunca che­garia à sua grande teoria se não assistisse, por acaso, a uma palestra sobre o big ­bang proferida por ninguém menos que Robert Dicke. A palestra inspirou Guth a se interessar por cosmologia, em particular pelo nascimento do universo. Daí resultou a teoria da inflação, que sustenta que, uma fração de momen­to após o despontar da criação, o universo sofreu uma súbita e drástica expan­são. Ele inchou - na verdade, fugiu de si próprio, dobrando de tamanho a cada 10 (elevado a -34) de segundo. O episódio inteiro talvez não tenha durado mais que 10 (elevado a -30) de segundo - isto é, um milionésimo de milionésimo de milionésimo de milio­nésimo de milionésimo de segundo - mas mudou o universo de algo que podia estar contido na mão para algo pelo menos 10000000000000000000000000 vezes maior. A teoria da inflação explica as ondulações e os turbilhões que tornam possível o nosso universo.

De acordo com a teoria de Guth, a um décimo milionésimo de trilioné­simo de trilionésimo de trilionésimo de segundo, surgiu a gravidade. Após outro intervalo ridiculamente breve, seguiram-se o eletromagnetismo e as forças nucleares forte e fraca - o material da física. Estes foram seguidos, um instante depois, por enxames de partículas elementares - o material da matéria. Do absolutamente nada, de repente havia enxames de fótons, pró­tons, elétrons, nêutrons e muito mais - entre 1079 e 1089 de cada, de acordo com a teoria padrão do big-bang. Claro que tais quantidades são inconcebíveis. Basta saber que, num úni­co instante extraordinário, fomos dotados de um universo vasto. (...)

Notações negativas fornecem essencialmente uma imagem invertida, com o número sobrescrito indicando o número de dígitos à direita da vírgula decimal (assim, 10 {elevado a -4} indica 0,0001). Embora eu apóie o princípio, duvido que alguém que leia "1,4 X 109 km3" veja imedia­tamente que se trata de 1,4 bilhão de quilômetros cúbicos, e acho estranho que se opte pela primeira forma em detrimento desta última (especialmente num livro que visa o leitor genéri­co, onde o exemplo foi encontrado). Pressupondo que muitos leitores genéricos sejam tão maus matemáticos quanto eu, usarei essa notação moderadamente, ainda que às vezes seja inevitável, sobretudo num capítulo que lide com assuntos na escala cósmica.

(...) Você também logo perceberá que nenhum dos diagramas que já viu do sistema solar foi desenhado em escala, ainda que remotamente. A maioria das ilustrações de sala de aula mostra os planetas um após o outro, com pequenos intervalos - os gigantes exteriores chegam a lançar sombras uns sobre os outros em muitos desenhos. Entretanto, esse é um engano necessá­rio para que possam ser colocados na mesma folha de papel. Netuno não está só um tiquinho além de Júpiter: está muito além de Júpiter - cinco vezes mais longe de Júpiter do que Júpiter está de nós, tão longe que recebe somen­te 3% da luz solar recebida por Júpiter.

São tamanhas as distâncias que é impossível, em termos práticos, dese­nhar o sistema solar em escala. Mesmo que você acrescentasse uma enorme folha dobrável aos livros didáticos ou usasse um papelão grande, não chega­ria nem perto. Num diagrama do sistema solar em escala, com a Terra redu­zida ao diâmetro aproximado de uma ervilha, Júpiter estaria a mais de trezen­tos metros e Plutão estaria a 2,5 quilômetros de distância (e teria o tamanho aproximado de uma bactéria, de modo que você nem conseguiria vê-lo). Na mesma escala, a Próxima Centauro, a estrela mais próxima, estaria a quase 16 mil quilômetros de distância. Ainda que você encolhesse tudo até Júpiter ficar do tamanho do ponto final desta frase, e Plutão não maior que uma molécula, Plutão continuaria a mais de dez metros de distância.

Portanto, nosso sistema solar é enorme. Quando chegarmos a atingir Plutão, estaremos tão distante que o Sol - nosso querido e quentinho Sol, que nos mantém vivos e nos bronzeia a pele - terá encolhido até o tamanho de uma cabeça de alfinete. Ele não passará de uma estrela brilhante. Num tal ermo, você começa a entender como até os objetos mais importantes - a lua de Plutão, por exemplo - passaram despercebidos. Quanto a isso, Plutão não é um caso isolado. Até as expedições das Voyagers, pensava-se que Netuno tinha duas luas; as Voyagers descobriram mais seis. Quando eu era menino, achava-se que o sistema solar continha trinta luas. O total agora são "pelo menos noventa", das quais cerca de um terço foi descoberto somente nos últi­mos dez anos. É claro que o que deve ser lembrado quando consideramos o universo como um todo é que não sabemos realmente o que existe em nosso próprio sistema solar. (...)

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