Novo modelo de família passou a representar 3,4% do total de domicílios em 2007, o equivalente a 1,94 milhão de casais
Em média, o rendimento per capita desse tipo de casal é de 3,5 salários mínimos, o que os coloca entre os 10% mais ricos da população
Os casais sem filhos em que ambos os cônjuges trabalham figuram cada vez mais no retrato da família brasileira, aponta a Síntese de Indicadores Sociais. Em 2007, esse novo modelo de família passou a representar 3,4% do total de domicílios, o equivalente a 1,94 milhão de casais. Em 1997, esse perfil somava menos de 1 milhão.
Segundo Ana Lúcia Saboia, gerente de Indicadores Sociais do IBGE, esse modelo tem crescido muito em sociedades industrializadas e é chamado de "dinc" (na sigla em inglês para duplo rendimento e nenhuma criança). Na prática, segundo o instituto, permite que o casal tenha mais recursos para se dedicar ao trabalho e ao lazer. "O resultado pode significar a escolha de não ter filhos, mas há também a influência do retardamento da maternidade para a busca profissional", diz Saboia. Em 58,7% desses casais, a pessoa de referência (considerada chefe de família, não só por questões econômicas) tinha até 34 anos, o que pode, segundo o IBGE, refletir o adiamento da decisão de ter filhos.
É o caso de Flávia Assis, 31, que já gostaria de ser mãe, mas pretende se estabilizar profissional e financeiramente antes. Ela e o marido são tradutores autônomos. "Sei que para a mulher é bom ter filho cedo, mas adiamos porque não tivemos ainda disponibilidade financeira", diz ela.
A pesquisa mostra que esse arranjo familiar ainda está restrito às classes de renda mais alta. Em média, o rendimento per capita desse tipo de casal é de 3,5 salários mínimos, o que os coloca entre os 10% mais ricos da população.
Para a antropóloga Miriam Goldenberg, o resultado reflete que a opção de não ter filhos começa a ser vista como legítima. "Até hoje, no Brasil, não ter filhos é um problema do casal ou da mulher, e muitas vezes é visto como fracasso. Isso acontece porque a família tem valor fundamental", disse.
A relações-públicas Brígida Moreira, 48, diz ter feito essa opção na adolescência. Casada há 19 anos, ela se disse surpresa ao saber do crescimento dos casais com o seu perfil. "Ser mãe deixou de ser o grande sonho feminino. Foi um sonho imposto por muito tempo, e muitas que não deveriam ser mães aceitaram. Agora as pessoas têm o poder de decidir."
Goldenberg destaca que os dados reforçam também a tese do adiamento do casamento e da maternidade. "Ter filhos mais tarde já é algo corriqueiro em muitos países, mas, no Brasil, quando a mulher chega aos 35 anos, entra em crise. Apesar dos comportamentos estarem mudando, os valores demoram mais para mudar", disse.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Não há segredos para fazer comentário. Escreva o que desejar, tecle as letras de segurança e para maior facilidade, considere-se "anonimo" e pronto, logo receberei o comentário e publicarei.